Marcelo Dutra da Silva

Reconstrução do RS: não podemos seguir repetir os mesmos erros

Por Marcelo Dutra da Silva
Ecólogo
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O céu caiu sobre nossas cabeças e seguimos vivendo um extremo climático de longa duração. Um período chuvoso que associa tempestades com vento, descargas elétricas, granizo e precipitação volumosas, em meio a constância de uma chuva fina e contínua, que nos alaga e nos expõe aos perigos das inundações.

O rastro de destruição em nossas cidades se mostra como nunca foi visto na história, encontrando comparativos com grandes catástrofes em outras partes do mundo, com cenas que mais parecem um cenário de guerra. E pensar que muito do que estamos vendo poderia ter sido evitado se os alertas da ciência tivessem sido escutados, quanto a recorrência de chuvas de maior volume e nossas práticas equivocadas de uso e ocupação do solo, especialmente nas cidades, onde insistimos em construir em áreas de risco ou com grande potencial de alagamentos e/ou inundações.

De outra parte, notícias revelam que não só deixaram de ouvir a ciência, mas também negligenciaram medidas importantes de contenção de cheias e prevenção de alagamentos. Obras fundamentais, com orçamento aprovado há mais de dez anos, nunca foram realizadas e agora estão fazendo muita falta. Aliás, fizeram falta em 2022, em três momentos em 2023 e agora mais do que nunca. Quem irá responder por isso? Será que o descaso, mais uma vez, vai restar impune?

Outra pergunta que se faz é quanto ao depois. Como será a reconstrução, a partir de agora? Muito difícil, sem dúvidas. Também, muito cara e demorada. Estima-se que serão necessários, pelo menos, 15 anos para reconstruir tudo e a cifra do prejuízo supera os R$ 19 bilhões. Na verdade, será muito maior, se avaliarmos a perda de capacidade instalada, a interrupção na produtividade e a necessidade de reconstruir com medidas de atenção para a prevenção e adaptação às mudanças climáticas, os valores deverão chegar aos R$ 30 bilhões.

Entretanto, o que mais de importante merece ser apontado neste momento pós-evento e reconstrução das cidades é o “não reconstruir as infraestruturas e áreas residenciais nos mesmos lugares de sempre, repetindo os mesmos erros do passado”. Este é o ponto! Não é possível continuar queimando recurso público recuperando o que já foi destruído uma, duas e até três vezes. É insano. Cidades inteiras vão ter que reavaliar suas práticas e estratégicas de crescimento, gerando faixas de proteção e maior afastamento das zonas residenciais das margens, desocupando terrenos baixos, planos e úmidos. ​

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